Olá a todos!
Ufa! Passada
toda a euforia do FIQ, (que pra mim é como se não tivesse passado, devido a
todas as outras coisas que tive que resolver assim que voltei pra casa)...
Finalmente, e atrasado comecei a ler as HQs que trouxe comigo, e outras de
antes mesmo do FIQ.
Sempre quis
produzir uma série de reviews de quadrinhos que li, e acho que começo essa
série com este. Como muitos dos meus projetos, este nasceu de uma frustração.
Comecei e ter vontade de escrever reviews de HQs que eu gostei, porque algumas
vezes sites pra onde eu mandei minhas HQs não chegaram a publicar nada sobre
elas. Então isso pra mim é meio como se fosse uma desforra, algo como "se
ninguém vai fazer eu faço", ou algo parecido. É claro que no caso da obra de
hoje, imagino que outros sites tenham realizado reviews, mas deixo já registrado que o presente review
vem de minha total iniciativa. Não sei nem
se deveria chamar isso de "Review". Não estou analisando a obra sobre
nenhum aspecto técnico ou artístico. Vou falar sobre as minha impressões
pessoais basicamente e de como a coisa me tocou. Com essa
introdução, vamos a CIRANDA DA SOLIDÃO- de Mário Cesar.
Uma coletânea de 5 HQs sobre relacionamentos. Acho que as histórias são basicamente sobre relacionamentos, mas mostrados do ponto de vista homossexual. Infelizmente ainda pra se falar sobre homossexuais é necessário logo depois falar sobre preconceito. A obra do Mário aborda também essa questão, porque essa é mais uma complicação que os homossexuais vivem em suas vidas amorosas (como se a vida amorosa de qualquer pessoa já não fosse complicada o suficiente).
Me desculpem
a sinceridade aqui, mas eu preciso dizer que eu também tenho um certo preconceito.
Acho que todos (inclusive homossexuais) temos. Eu não gosto de ver dois homens tendo
intimidades, isso me incomoda de certa forma, e acho que isso pode ser
classificado como preconceito. Mas como falei antes, a história é sobre
relacionamentos, e com problemas de relacionamentos todos podem se identificar.
Aliás a
chave pra vermos como o preconceito e o medo não tem sentido é justamente a
identificação, e eu acredito muito nisso. No seu texto final, Mário explica
como a leitura de algumas obras de quadrinhos provocaram nele uma identificação
mais realista com seus problemas
pessoais, de X-men até Sandman.
A identificação
fez como que ele tivesse uma visão melhor de si próprio, e com certeza, Ciranda
da Solidão tem o mesmo efeito sobre quem lê.
A primeira HQ por exemplo, trata de inadequação social. Que é em boa parte o tema sobre o qual eu
também falo na minha HQ. Meu personagem
principal, o Oigo, que é baseado em mim mesmo, também é um eterno inadequado,
estranho e desencaixado da ordem social. Todos os acham estranho e esquisito, e
eu o desenho propositalmente gordo e curvado, assim como eu sou, eu como uma
versão distorcida de como eu me vejo, ou talvez até baseado na visão distorcida
que me fizeram acreditar que era eu.
Por esse motivo, além de qualquer tipo de
questão homossexual, eu pude me identificar muito com a primeira história, com
o personagem se sentindo fisicamente estranho, com medo de os outros rirem e
fazerem piadas com ele no colégio. Sim, aquela cena aconteceu comigo, porque eu
era gordo quando criança. Então quando o
Mário fala sobre o "Clube das pessoas normais", eu posso me
relacionar diretamente com isso. Isso me fez ver semelhanças entre o meu
trabalho e o do Mário. Apesar de todas
as diferenças que você poderia imaginar no nível superficial, já que o Oigo
vive caçando mulheres.
E de repente
eu me toco de que realmente todos estamos nesta Ciranda da Solidão, não importa
se somos heterossexuais ou homossexuais. Somos todos humanos, e sempre vamos
sofrer de relacionamentos desfeitos, ou se formos diferentes de algum padrão
arbitrariamente estabelecido: Seja se
formos gordos, negros, baixos, Gays, mutantes, ou qualquer que seja a categoria
considerada Inferior. (A metáfora do Street Fighter caiu perfeitamente na
situação).
A parte da
primeira HQ, que foi a minha preferida, as outras também são bem legais. Gostei
bastante de todas. Destaque em especial para as curtas de uma página, e a
página em forma de ampulheta da história "A escrita no muro", fazendo
referência ao tempo, que se desenrola de forma não-linear na HQ. E o interessante aqui também é que observando
essas HQs, elas poderiam ser contadas sem perder nada do seu sentido se os
protagonistas fossem casais heterossexuais. Isso diz de forma muito sutil que
as relações homossexuais realmente não são tão diferentes dos heterossexuais,
ao contrário do que poderíamos imaginar.
Talvez isso aconteça devido a influência daquelas visões estereotipadas cômicas
de homossexuais, das quais o Mário fala em seu texto, e que ele tenta
justamente quebrar em seu trabalho.
Esse é um
dos motivos pelos quais eu gosto muito de HQs pessoais, principalmente do tipo
que você não vê sempre. Sempre acho interessante ler trabalhos em HQ com roteiros
de mulheres, por exemplo. Até adaptei um texto de uma amiga pra quadrinhos,
coisa que normalmente não faço.
Porque
gostei do texto e é uma coisa que você não vê sempre. Assim como o trabalho do
Mário, que além de ser interessante, bem escrito e divertido, é também muito
necessário.
Uma das coisas mais legais que esse tipo de quadrinhos nos dá é poder ver o mundo pelos olhos de outra pessoa, nem que seja por alguns instantes. Isso é o que eu busco passar com o meu trabalho, em boa parte. Eu quero que as pessoas vejam as coisas pelo ponto de vista do meu personagem, e por alguns momentos se sintam na pele dele, se sintam um pouco como eu me senti em determinado momento. Em a "Ciranda da solidão", você também vê as coisas um pouco como o Mário, como tenho certeza, também era a intenção dele. E vendo as coisas do ponto de vista dele, descobri que ele vai além dos estereótipos. É uma ótima leitura, seja qual for a sua opção sexual.
Uma das coisas mais legais que esse tipo de quadrinhos nos dá é poder ver o mundo pelos olhos de outra pessoa, nem que seja por alguns instantes. Isso é o que eu busco passar com o meu trabalho, em boa parte. Eu quero que as pessoas vejam as coisas pelo ponto de vista do meu personagem, e por alguns momentos se sintam na pele dele, se sintam um pouco como eu me senti em determinado momento. Em a "Ciranda da solidão", você também vê as coisas um pouco como o Mário, como tenho certeza, também era a intenção dele. E vendo as coisas do ponto de vista dele, descobri que ele vai além dos estereótipos. É uma ótima leitura, seja qual for a sua opção sexual.
DJ.