sábado, 5 de janeiro de 2019
Bolsonaro e a Proteção de Ego.
Já discuti sobre isso antes, mas suponho que agora também seja um bom momento. É bom relembrar um pouco o motivo de estarmos onde estamos agora. O movimento de extrema direita que tomou o país e elegeu você sabe quem, teve sua origem, seu germe alguns anos atrás. Tudo começou com a ascensão dos movimentos feminista, LGBT e negro. Quando esses movimentos começaram, era como se dedos, ou posts de facebook, fossem apontados na cara da sociedade dizendo: Você é machista, você é racista, você é homofóbico. Todos nós somos em algum nível. Quem não reconhece isso está fazendo parte da triste realidade a que me refiro aqui.
Assim como a água tende a se nivelar naturalmente a mente humana sempre que possível vai procurar naturalmente alguma forma de proteção de Ego. Vai procurar sempre que possível desviar sua responsabilidade para fora de si mesmo. Colocar a culpa em outra coisa ou pessoa. Reconhcer seus erros é algo praticamente impossível pra algumas pessoas, por algum motivo ou outro. Antes de reconhecer seu erro, o que levaria a necessidade de mudança, elas preferem ajustar todo o mundo a sua volta a sua maneira de pensar. É uma inércia mental.
Durante um tempo, quando os movimentos de minoria se levantaram, a sociedade ficou como uma barata tonta rodando e se contorcendo. Ela pensava: "Isso não pode estar certo, eu não sou machista, nem homfóbico, também não sou racista".
"Como não posso mais passar uma cantada em uma mulher na rua?"
"Como não posso chamar um amigo de viado?"
"Já fiz tudo isso."
"Estava errado, todo esse tempo?"
Como uma criança birrenta que não quer pedir desculpa por ter feito algo errado. As pessoas precisavam de uma saída, alguém ou alguma coisa que "pagasse essa fiança" para eles. Os livrasse de sua culpa.
Dai veio o salvador da pátria, o salvador dos Egos contorcidos. Bolso e o extremismo de direita. Essa ideologia diz que não existe feminismo, não existe movimento LGBT nem movimeto negro. É tudo mimimi. Feministas são terroristas. A escravidão nem sequer aconteceu. Prefiro meu filho morto do que gay. Isso é tudo parte de uma conspiração comunista pra destruir a família brasileira. Pra acabar com a macheza, sejá lá o que isso for. Você não está fazendo nada de errado, você nunca fez nada de errado. Pode continuar como você está. Você não precisa mudar nada. Evoluir nada.
Você é perfeito.
"Que alívio!"
Isso é tudo que as pessoas precisavam. Todos correram pra debaixo do guarda chuva de proteção da extrema direita. Da voz que dizia que eles nunca fizeram nada de errado.
Assim como Anakim Skywalker preferiu ouvir o Imperador que só o elogiava em vez de ouvir Obi Wan Kenobi que para treiná-lo, precisava que ele reconhecesse seus erros e mudasse.
Isso corre de uma maneira tão pesada que existem mulheres machistas, negros racistas e gays que votaram no Bolso. A força da proteção de Ego é tão forte, o impulso para se livrar da responsabilidade é tão grande, que as pessoas olham para o Bolso e pensam que ele tem capacidade pra ser alguma coisa na vida. A realidade se distorce. É como uma droga. Nada importa pra mim. A história não importa, o bom senso não importa. Não importa que ele seja um incompetente completo. Poderia ser até uma pedra ali, desde que essa pedra me dissesse que eu não fiz nada de errado e não preciso mudar.
Danilo Gentilli está produzindo um documentário criticando o politicamente correto.
Quem me fez ver isso foi justamente Robert Crumb, o desenhista. Crumb sempre foi criticado pelas feministas por desenhar explicitamente suas fantasias sexuais em seus quadrinhos. E ele sempre foi de esquerda. Sempre atacou as elites corporativas em seu trabalho. Participou dos movimentos de minorias desenhando cartazes. Ele teve sua cota de desentendimentos com as feministas, mas quando criticado muitas vezes não revidava, nem se escondia atrás de ideologia nenhuma. Ele entende que como artista você não pode se esconder. Ele dizia: "Não tenho desculpa nenhuma, meu trabalho é doido mesmo".
Em outras palavras, ele assumiu a total responsabilidade pelo seu trabalho. Pelos seus atos. É isso que eu faço. É isso que eu sou. Não tenho nenhuma desculpa. Mesmo que não se tenha intenção de mudar, não é mais honesto assumir a responsabilidade pelos seus atos do que se esconder atrás de uma ideologia?
Pra mim é ai que se traça a linha entre o artista e o ativista político.
Essa é a diferença. Se todas as pessoas pudessem assumir a responsabilidade pelos seus atos, nunca teria existido um movimento de extrema direita forte. Ele teria se dissolvido. Não teria necessidade de uma proteção de Ego.
Por outro lado as pessoas não percebem que a coisa toda é puramente simbólica. A vida dos negros realmente mudou com a eleição de Obama? O racismo parou? Não acho. Da mesma forma, o movimento feminista, gay e negro não vai parar porque Bolso foi eleito. Se algo acontecer, será fortalecido. Não deixaram de existir gays porque ele for eleito.
Mas as pessoas querem essa ilusão. E brigam por ela.
DJ.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Tudo o que você sempre quis saber sobre o Oigo! (Mas não sabia a quem perguntar!) Por Diego J. Acho que o "verme" da...
-
Tudo o que você sempre quis saber sobre o Oigo! (Mas não sabia a quem perguntar!) Por Diego J. Acho que o "verme" da...
-
Já discuti sobre isso antes, mas suponho que agora também seja um bom momento. É bom relembrar um pouco o motivo de estarmos onde estamos a...
-
Olá amigos do BLOG do Oigo! Hoje vou falar com vocês um pouco sobre algumas divagações minhas a respeito de roteiros, mas especificamente...
isso faz todo o sentido e explica muita coisa.
ResponderExcluirDe fato, todos temos nossos preconceitos. Reconheço alguns em mim.
ResponderExcluirAcho que o que ocorre com o Mito é o fato de que, enquanto algumas pessoas - eu, inclusive - têm vergonha dos preconceitos que possuem, outras, não somente procuram justificá-los, como, em certos casos, tendem à se orgulhar deles.
Um amigo recentemente me indicou uma série documental da netflix chamada "story of us", apresentada pelo morgan freeman. Caso não conheça, deixo a sugestão. É ótima e trata, não somente do tema do preconceito, quanto dos temas do autoritarismo e do medo, que, como vc escreveu noutra postagem, "não é um bom conselheiro"