Olá amigos do Blog do Oigo! Diego José aqui para mais uma
matéria imperdível, desta vez sobre o grande Harvey Pekar!
Pra quem não conhece ainda a trajetória deste, como diria o
Faustão- Monstro sagrado dos quadrinhos, aqui vai um pequeno resumo:
Harvey Pekar nasceu em Clevelad, Estados Unidos, em 8 de
Outubro de 1939, morrendo em 12 de julho de 2010. Segundo suas próprias
palavras, passou 10 anos "teorizando" sobre a possibilidade de fazer
uma história em quadrinhos.
Escrevia
histórias e fazia pequenos layouts com figuras de palito. Foi só depois de sua
amizade com Robert Crumb, que ele finalmente conseguiu ter uma de suas
histórias desenhadas, e nascia a série "American Splendor", em 1976,
que até onde sei está sendo vendida e republicada até hoje.
Pekar Definia sua obra como " Uma história que é
escrita enquanto acontece". O grande lance de Harvey, a sua genialidade
era isso. Suas histórias eram retratos fiéis do que acontecia em sua vida.
Pense o que acontece na sua vida: Você vai pro
trabalho, no super mercado, chega em
casa, conversa com um amigo, fala no telefone, pronto. Isso é sua vida e isso
eram as histórias do Harvey.
As histórias do Harvey, assim como as do Robert Crumb e
outros autobiográficos hardcores, não
tem as técnicas de roteiro que você aprenderia se fosse fazer um curso de como
escrever roteiros. Não tem ritmo, começo
meio e fim, muitas vezes não tem conflitos e quando tem, estes são apresentados
de maneira bem diferente, não tem conclusão, clímax, etc e etc... Nenhum dos velhos truques de
dramaturgia. Elas carecem daquele esquema de estrutura de roteiro utilizado
pelo autor com o intuito de passar alguma mensagem, mas isso não quer dizer que
elas não tem mensagem nenhuma.
Alan Moore, um dos grandes apoiadores e fãs do Pekar, disse
que suas histórias só não são mais aclamadas e aceitas porque os leitores de
quadrinhos não estão acostumados a sutilezas.
As histórias do Harvey não chegam a conclusão nenhuma porque
a vida não tem conclusão nenhuma. Não
tem emoção (em sua maioria) porque 90% da vida não tem emoção nenhuma. 90 % da
vida é feita de sequências de momentos chatos e tediosos. Se tivermos sorte,
teremos alguns poucos momentos de felicidade e significado para nos agarrarmos,
e mesmo se não tivermos, devemos agradecer pra não ir pro outro lado da moeda,
para os momentos ruins, apesar de que neles (as vezes) também conseguimos
significado.
Todas as obras: Filmes, livros e quadrinhos, principalmente
os mais comerciais, retratam exatamente esses 10% de vida, em que as coisas
parecem extremamente felizes ou tristes, o momento que atribuímos significado. É sempre o momento de risco de vida, o momento
de grandes viradas na vida amorosa, o casamento, nascimento de filhos, morte de alguém, momentos extremamente
engraçados, conflitos familiares, etc... Inclusive isso tem sido uma prática
das grandes editoras, sempre que um personagem famoso está caindo em vendas...
Todo mundo lembra da morte e casamento do Super homem não é? E eles fizeram
nessa ordem... Acho que eles pensaram... Depois da morte, o que pode ser pior?
Mas e se a vida tivesse significado no momentos tediosos do
dia a dia? E se não precisássemos de momentos bombásticos fictícios? Talvez
a vida faça sentido até mesmo na fila do super mercado, até mesmo quando você
recebe uma ligação errada ou quando dá comida ao seu gato. Quem sabe você que
não percebeu, por ser muito sutil. Ou quem sabe o que você pensou ser o sentido
real, não era. Quem sabe o sentido esteja no pequeno, no casual e no intimo e
não no grandioso, no épico.
É claro que Harvey Pekar não transformou toda sua vida em
histórias em quadrinhos. Não tinha como.
E mesmo ele também retratou em suas histórias os momentos dramáticos de sua
vida, como quando ele teve câncer, ou quando conheceu a esposa, quando seu
filme foi lançado, etc. É relativamente
fácil imaginar porque o fato de ele ter tido câncer acabou nas páginas dos
quadrinhos, mas e quanto aos fatos comuns e corriqueiros? Dos milhões de fatos
comuns e corriqueiros porque escolher justamente os que ele escolheu?
Porque no fundo as histórias não são sobre os fatos
corriqueiros, mas sobre o que ele pensou sobre os fatos corriqueiros, sua visão
do momento, do fato, do acontecido. Todos nós vivemos nossas vidas pensando
sobre coisas que acontecem. Gostamos de algumas coisas, desgostamos de outras.
Muitas vezes temos algo a dizer sobre alguma coisa. Mas a maioria dessas
opiniões nem sequer são ditas em voz alta, muito menos registradas para a
eternidade em uma obra de quadrinhos.
Harvey Pekar fez pelos quadrinhos fez para os quadrinhos o
que o Youtube está fazendo com a televisão hoje em dia. Você não precisa de
nenhuma característica especial pra aparecer. Você tem direito a espaço se tiver algo a dizer. Quem
sabe somente o fato de viver já seja uma obra de arte em si. Para maioria das
pessoas essa arte ficará para sempre sem público. Não para o Harvey.