terça-feira, 16 de dezembro de 2014

INTERESTELAR E O SENTIMENTALISMO CIENTÍFICO



Olá amigos do Blog do Oigo! Diego José aqui com mais uma matéria imperdível. Desta vez sobre o recente filme Interestelar de Christopher Nolan.

Diferente do que pode parecer pelo que você vai ler em seguida, eu realmente gostei do filme. Gostei de ele ser cientificamente correto até certo ponto, lidar com questões atuais sobre o futuro da sobrevivência na terra, lidar com coisas como buracos de minhoca, buracos negros e conquista de novos planetas com uma coerência científica pouco vista antes no cinema.



 Eu apenas achei que a teoria que ele propõe e prova como correta no final do filme, é questionável do ponto de vista científico. E essa teoria é a de que o Amor é o sentido do universo, o sentido de tudo. No filme, o protagonista é confrontado pela questão de ter que escolher entre salvar toda a raça humana e ver sua filha de novo, sendo que ele tinha prometido a ela voltar, e não tinha certeza se conseguiria cumprir. Em algum ponto do filme essa escolha é driblada pelo roteiro, e ele consegue salvar a humanidade e estar com a filha ao mesmo tempo. Vou voltar a essa questão um pouco mais na frente.

No fim do filme quando o protagonista entra no buraco negro, ele descobre que o Amor é o sentido de tudo e que isso o levaria a salvação da humanidade. Sentimentos sendo mais importantes que o intelecto. Essa mesma sentença é novamente comprovada no filme, quando a personagem de Anne Hathaway toma a decisão intelectual ao invés da decisão emocional e isso dá em merda total. O ponto do filme foi entendido, Christopher, aliás é curioso que a mensagem seja essa, dentro de um filme tão cientificamente acurado.

Meu problema com isso é que eu não acho que o Amor é o sentido de universo, o sentido de tudo. Acho que não é nem o sentido da nossa vida. É claro, nós vivemos como se fosse, porque é assim que nós fomos criados para ser. Mas o amor, o ódio, a felicidade e todos os sentimentos humanos não podem ser o sentido de nada, porque eles não são o final de nada.



Eles são uma ferramenta pra se atingir outra coisa, e portanto não podem ser o objetivo final de nada.

Se você diz que o amor é o sentido de tudo, pra mim você age mais ou menos como o Pai do Cameron no curtindo a vida adoidado, lembra? Você tem um carro parado na garagem, você não anda nele porque você o ama e não quer gastá-lo nem pra ir na esquina comprar pão. Mas o propósito do carro é levar você a algum lugar. Se você deixa ele parado na garagem, qual a função dele? Nenhuma. Só ser bonito. Da mesma forma, o amor também é bonito, mas ele é uma ferramenta com uma função específica. Levar você a algum lugar. E uma função que pode muito bem ser mais lógica do que emocional.

Todos os sentimentos humanos tem uma função na manutenção da vida da espécie.

O amor serve para nos importarmos uns com os outros, ajuda na sobrevivência de crianças pequenas. Laços familiares são importantíssimos pra sobrevivência da espécie, amor entre parentes próximos manteve a espécie viva contra predadores, etc.

Medo serve para nos manter afastado de perigos desnecessários.

Raiva, agressividade serve para nos defendermos de ameaças.

Inveja serve para nos impulsionar a aprender coisas novas e nos superarmos.

Alegria serve como uma recompensa e alívio sem a qual não conseguiríamos manter a difícil rotina de sobrevivência.

Até o amor a entes falecidos questionado no filme pela personagem de Anne Hathaway tem a meu ver uma função na sociedade. Temos que acreditar que nossos entes queridos falecidos estão felizes ou alcançaram algum tipo de descanso eterno, para que acreditemos que nós também alcançaremos isso algum dia. O que por sua vez, nos faz voltar ao trabalho mais tranquilos, no nosso dia a dia de sobrevivência.

Nós não vivemos para amar. Amamos para viver.


O objetivo é esse, o lugar pra ir é esse. Precisamos ficar vivos, como indivíduos e como espécie, e pra isso não tem jeito, precisamos da ajuda uns dos outros. Precisamos de nosso pais, amigos, profissionais da sociedade, mas acima de tudo, precisamos dos sentimentos. Eles são a cola que mantém a sociedade unida. O óleo que mantém a engrenagem rodando. Agora se você começa a perguntar porque essa engrenagem tem que rodar, acho que está fazendo a pergunta mais profunda, mais do que a que foi feita pelo filme.

Todos nós estamos dentro dessa espiral de sentimentos, não podemos nos desvencilhar dela. Os que por acaso nascem com o problema de estar de fora disso, são doentes, psicopatas, pessoas que não sentem empatia nenhuma, são uma ameaça a vida.

Por mais difícil que seja para nós visualizar essa realidade, pode muito bem ser uma verdade científica que o sentido da existência seja como um filme do lars von trier, e não como esse do Christopher Nolan.

Pode muito bem ser verdade que a realidade da existência seja mais parecida com o Melancolia do que com o Interestelar. Eu sinceramente gostaria de acreditar que é como o Interestelar, mas é perfeitamente possível que não seja, a meu ver.


Pra quem não se lembra Melancolia mostra pessoas vivendo suas vidas enquanto um planeta entra em rota de colisão com a terra. As pessoas que tem algum tipo de laço emocional parecem se desapontar com todos estes. A existência aparentemente  sem sentido ou propósito da personagem de Kristen Dunst, parece se encaixar, ou concordar com a falta de sentido total de um planeta que se choca com a Terra e acaba com toda a vida de uma vez só. No final do filme, o planeta se choca, e vemos uma nuvem de fogo. Fim. Sobem os créditos.

O final desse filme me deu uma sensação de vazio real como poucas vezes eu senti antes. Mas tudo bem, isso só mostra que eu tenho sentimentos, e gostaria de acreditar que as coisas no fim tem um sentido.

Em Interestelar,  quando a questão intelecto x sentimentos é colocada a prova, sentimentos vencem, sempre. Quando o protagonista decide entrar no buraco negro para salvar a humanidade, ele escolhe nunca mais ver a filha (se estou bem lembrado do filme). Mas pra surpresa geral, dentro do buraco negro é como se você visse um espelho dos seus sentimentos(?). O que o permitiu não só salvar a humanidade, como ver novamente a filha. Isso  exclui a consequencia negativa da decisão máxima do filme, e por isso mesmo enfraquece o peso da decisão, na minha opinião. Se você me perguntar, eu preferiria fazer o personagem sofrer as consequencias das escolhas que ele tomou. Se ele decidiu entrar no buraco negro, ele não veria mais a filha. Se ele decidisse ver a filha, seria o fim da humanidade. Mas... Estamos falando de cinema americano. Dinheiro e finais felizes...

O que leva a outra coisa interessante do filme. Que consequencias existirão quando a humanidade conseguir quebrar a velocidade da luz? Teremos realmente a coragem de nos jogar no espaço em missões sem retorno em busca de outros planetas? Nos depararemos com a decisão do personagem de Matt Damon? Salvar a minha pele ou salvar a humanidade?

  Só espero que a pessoa que for jogada no espaço pra salvar a humanidade tenha o pensamento mais racional e menos emocional que o protagonista de Christopher Nolan. Porque na realidade, o fim do buraco pode ser realmente negro.

DJ.


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